quinta-feira, 25 de julho de 2024

Bambu, a planta das 10 mil utilidades

 Uma planta que não precisa de agrotóxicos, é imune a formigas, demanda pouca água, em seis meses alcança seu tamanho final, pode ser cultivada em terrenos declivosos, ajuda na contenção de encostas e pode ser usada de mais de 10 mil formas. Sim, ela existe e provavelmente você conhece. Estamos falando do bambu, que também salva vidas.

Pelo menos a vida da agricultora Eloisa Tessari, de Caçador, ele salvou. “Eu devo minha vida a Deus, ao bambu e à Epagri”, conta ela, que superou uma depressão grave quando conheceu o artesanato com a planta em um curso sugerido pela extensionista Daniela Helena Conorath. 


Eloisa é mais uma das cerca de 1,6 mil pessoas que a Epagri capacitou, em 80 cursos espalhados pelo Estado. A capacitação da Epagri forma pessoas para produção e manejo do bambu, bem como para confecção de itens derivados dele, como artesanatos e móveis. 


“Minhas mãos são grandes, não eram boas para artesanatos como crochê, mas para o bambu elas servem”, resume Eloisa, que encontrou na atividade um novo motivo para viver. “Foi uma história emocionante, minha depressão não existe mais, me sinto feliz, me sinto muito bem”. 


Início em 2019


Gilmar Carlos Michelon Dalla Maria, extensionista da Epagri em Curitibanos, conta que o trabalho da Empresa com o bambu começou em 2019, com o estabelecimento de um termo de cooperação técnica com a Associação Catarinense do Bambu (BambuSC). A partir daí, a Empresa começou a promover cursos para agricultores e artesãos interessados na manufatura da planta. 


Ao longo desse período, os extensionistas da Empresa também realizaram experimentos com bambu em sete municípios catarinenses: Tubarão, Joinville, Agronômica, Curitibanos, Videira, Maravilha e Concórdia. Esse trabalho reuniu as informações necessárias para indicar qual cultivar é mais adequado para as diferentes realidades do território catarinense.

Experimentos da Epagri permitiram indicar cultivares de bambu mais adequados a SC (Foto: Aires Mariga / Epagri)


A Câmara Setorial do Bambu, lançada em 25 de junho pela Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária veio dar mais uma contribuição a esse trabalho. O objetivo do novo órgão é formular e executar uma política pública para o setor. 


O bambu é conhecido e utilizado no oriente há milênios, para as mais diversas funções: na alimentação, para estrutura de casas, na construção de paredes, telhas, portas, janelas, cercas, pontes, embarcações, na irrigação, como dreno e para contenção de encostas. Também pode ser transformado em mobiliário, utensílios de cozinha, objetos de decoração, peças de arte, entre outras aplicações. 


São mais de 10 mil usos registrados no mundo para o bambu. “A China exporta, anualmente, mais de 1,4 mil itens produzidos a partir dessa matéria-prima, girando bilhões de dólares e gerando milhares de empregos”, ressalta Gilmar. 


Valor ambiental e nutracêutico


Para muito além de sua exploração econômica, o bambu é uma planta de grande valor ambiental. Bambuzais demandam pouco ou nenhum manejo e não necessitam de agrotóxicos. Segundo Gilmar, são excelentes sequestradores de carbono e podem ser utilizados em reflorestamentos, na recomposição de matas ciliares e como protetores e regeneradores ambientais. 


“A cadeia produtiva do bambu pode beneficiar o meio ambiente, evitando o corte de árvores e de matas nativas e gerando renda e empregos, além de contribuir para fixar o homem no campo”, avalia o extensionista. Nesse sentido, ele lembra que o Brasil dispõe de clima favorável e grande extensão de áreas degradadas, inaptas para outros cultivos, mas adequadas ao plantio de diversas variedades da planta. 

Como se tudo isso não bastasse, o bambu ainda serve como alimento e tem importantes propriedades nutracêuticas. Seus brotos têm presença significativa de fitoesteróis, triterpenos e fenóis. As propriedades farmacológicas dos bambus vem sendo comprovadas por pesquisas nos últimos anos, sobretudo as atividades antioxidantes, antimicrobiana e antitumoral. “Na Ásia, suas espécies são amplamente empregadas pela medicina e alimentação tradicional, mas sua utilidade como alimento funcional ainda é desconhecida do grande público ocidental”, relata Gilmar.


A agricultora Eloisa não precisou nem se alimentar do bambu para obter benefícios para sua saúde. Só de sentar debaixo do bambuzal de sua propriedade, já sente bem-estar. O som que o bambuzal faz ao balançar com o vento é um bálsamo para ela. 


Mas nem sempre foi assim. Antes de passar pelo curso da Epagri, em 2023, ele sequer conhecia o bambuzal cultivado há 14 anos pelo marido Valdemar Tessari, seu grande apoiador. Quando conheceu, foi tomada por um encantamento que fez dela uma fã e defensora incondicional da planta. 


Sentido para a vida


A propriedade dos Tessari sempre foi atendida pela Epagri. Em 2023 ela participou do curso Flor-e-Ser, oferecido pela Epagri à mulheres do meio rural. Era mais uma tentativa de encontrar um novo sentido para sua vida de agricultora, ofício que herdara dos bisavós. 


Ao final do curso Flor-e-Ser, Eloisa precisava escrever um projeto relacionado às benfeitorias que desejaria fazer em sua propriedade, onde produzia tomates, frutas e outros alimentos. Mas nada a motivava. “Com 53 anos, o que eu ia fazer? Não me encontrava em nada na propriedade”, descreve. 

Foi aí que a extensionista Daniela deu a ideia: porque não fazer a capacitação em beneficiamento de bambu? A extensionista conhecia o bambuzal dos Tessari, cultivado para produzir estacas para tomateiros, e sabia do potencial da planta para outros usos. 


Eloisa foi para o curso da Epagri sem muita esperança, desanimada que estava com a vida. Na companhia da filha, aprendeu a fazer seu primeiro utensílio de bambu, uma colher. A partir daí, não parou mais. “Eu me apaixonei por aquela colher”, conta com bom humor. 


Essa paixão espantou a depressão e trouxe um novo ânimo para a agricultora. A produção de artesanato com bambu tornou-se o motivo de seu trabalho de conclusão do curso Flor-e-Ser, que recebe financiamento da Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca para ser implementado. 


A empolgação foi tanta, que ela nem esperou a verba do financiamento sair, já foi logo comprando o maquinário necessário: lixadeira, esmerilhadeira, furadeira, serra circular, entre outros. “Minha família achou que eu estava louca”, diverte-se. Tudo foi instalado numa antiga garagem da propriedade, que agora está sendo substituída por uma bela estrutura de metal, erguida com o dinheiro do projeto.

Cursos da Epagri ensinam a fazer móveis de bambu, entre outras coisas (Foto: Aires Mariga / Epagri)


Hoje a agricultora conta com a marca Bambu Eloisa Artesanatos. Produz e comercializa bancos, suporte para velas, sinos de vento, copos, obras de arte, luminárias, fontes de água, colheres e tudo mais que o que sua cabeça imaginar e suas mãos puderem executar. Os itens são vendidos em feiras, no Instagram (@tessari.eloisa) e no boca a boca. Como o negócio é novo, o lucro ainda é pouco, gira em torno de R$1,2 mil por mês. Mas, o maior ganho comemorado pela agricultora no manejo dessa planta foi recuperar sua saúde mental e seu amor pela vida no campo. “Com o bambu eu me descobri”. 


Por Gisele Dias, jornalista da Epagri

giseledias@epagri.sc.gov.br


Informações para a imprensa

Isabela Schwengber, assessora de comunicação da Epagri

(48) 3665-5407/99167-3902

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Produtores rurais devem atualizar seu cadastro na Cidasc até 30 de julho


 

Governo do Estado declara Queijo Kochkäse e Linguiça Blumenau como patrimônios culturais imateriais de Santa Catarina

 

Foto: Ascom/Cidasc.

Produtos tradicionais das colônias alemãs de Santa Catarina, o Queijo Kochkäse e a Linguiça Blumenau, iguarias típicas de imigrantes alemães, ganharam fama, viralizaram como ingredientes gourmet e receberam o título de patrimônios culturais e imateriais de Santa Catarina, conforme publicado no Diário Oficial do Estado, do dia 3 de junho de 2024. Cabe à Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) orientar as regras que devem ser obedecidas pelos produtores para que estes produtos possam ser comercializados de forma segura, sem perder as características únicas que proporcionaram tão importante título nacional.

A presidente da Cidasc, Celles Regina de Matos, comenta sobre essa adesão. “Estamos imensamente orgulhosos e honrados com o reconhecimento do Queijo Kochkäse e da Linguiça Blumenau como patrimônios culturais imateriais de Santa Catarina. Esses produtos não são apenas alimentos, mas verdadeiros símbolos da rica herança cultural alemã presente em nosso estado. Esse título reforça a importância de preservar e valorizar nossas tradições. A Cidasc, com sua expertise técnica, está comprometida em apoiar os produtores, garantindo que essas iguarias mantenham sua qualidade excepcional e suas características únicas. Assim, contribuímos para a continuidade desta herança cultural, assegurando que futuras gerações possam também desfrutar e se orgulhar dessas delícias catarinenses. É um privilégio fazer parte deste processo de valorização cultural e econômica de Santa Catarina”, destaca Celles. 

É o caso da Linguiça Blumenau produzida em 16 municípios catarinenses do Vale do Itajaí e do Alto Vale do Itajaí há quase cem anos. A história da linguiça de carne suína pura e defumada de Blumenau começa no final do século XIX, quando imigrantes alemães se instalaram no Vale do Itajaí e adaptaram receitas de sua região de origem, a Pomerânia. O produto é fabricado somente com paleta, pernil e toucinho suínos. A Linguiça Blumenau passa pelo menos dois dias dentro de defumadores abastecidos com carvão e serragem, em um processo artesanal essencial para garantir as características únicas do produto e obteve junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, o selo de Identificação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP).


O Queijo Kochkäse ganha agora normas de qualidade e identidade, um produto tipicamente catarinense, produzido nos municípios originados nas primeiras colônias de imigração alemã de Santa Catarina: Blumenau e Dona Francisca. É um tipo de queijo branco cozido que ainda não tinha regulamentação, que é esfarelado, salgado e fermentado, para depois ser cozido em frigideira ou panela. O queijo derretido vai se transformando lentamente no Kochkäse. Também tem forte identificação com o modelo de agricultura local e guarda saberes culinários históricos deste povo.

Este produto foi regulamentado em 2020, ganhando normas para a definição de sua qualidade e identidade, contudo, a comercialização manteve-se regionalizada. A intenção agora é apresentar esse produto para os consumidores mais distantes do estado, levando a cultura aliada ao sabor ao conhecimento de todos. O Governo do Estado prestará apoio técnico para o desenvolvimento de projetos, ações e eventos que contribuam para a Indicação Geográfica do Queijo Kochkäse e demais certificações e processos para sua qualificação sanitária.

A regulamentação foi embasada por estudos microbiológicos e físico-químicos feitos pela Universidade Regional de Blumenau (Furb) e a partir do trabalho conjunto da Secretaria da Agricultura e Pecuária (SAR), Cidasc, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (Ammvi). O trabalho para regulamentar o queijo tipo Kochkäse iniciou em 2016 e como resultado traz segurança alimentar para o produtor e consumidor, já que para a produção e comercialização do queijo a partir de leite cru, é necessário que o leite venha de propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose. 

Com a Norma Interna Regulamentadora (NIR) os consumidores têm a segurança de que o produto segue diversas normas de fabricação e apresentação. Além de ser elaborado a partir do leite cru produzido em propriedades certificadas livres de brucelose e tuberculose, o Kochkäse deve seguir o programa de Boas Práticas de Produção implantadas no sistema de criação e ordenha.

+Sobre a Linguiça Blumenau
Produzida em municípios catarinenses do Vale do Itajaí e do Alto Vale do Itajaí há quase cem anos, a história do embutido começa no final do século XIX, quando imigrantes alemães se instalaram no Vale do Itajaí e adaptaram receitas de sua região de origem, a Pomerânia. Ficou com esse nome devido aos turistas que visitavam a cidade e levavam a linguiça para São Paulo e Curitiba.

+Sobre o Queijo Kochkäse
O Kochkäse é um queijo originário da Alemanha, trazido pelos imigrantes para a região do Vale do Itajaí. Tradicionalmente, é feito a partir do leite cru, coagulado naturalmente e em seguida prensado para retirar o soro. Estima-se que nos seis municípios abrangidos pelo processo de registro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cerca de 100 famílias, entre produtores rurais de leite e feirantes, fabriquem o queijo dessa maneira.

Com a certificação pelo IIphan, o modo de fazer do Queijo Kochkäse poderá ser reconhecido como patrimônio cultural imaterial, o que o tornará uma iguaria relevante e transformará o hábito alimentar em característica cultural destas cidades.

+Lei n.º 18.924, de 3 de junho de 2024
Declara a Linguiça Blumenau integrante do Patrimônio Cultural do Estado de Santa Catarina e altera o Anexo I, da Lei n.º 17.565, de 2018, que “Consolida as Leis que dispõem sobre o Patrimônio Cultural do Estado de Santa Catarina”.

+Lei n.º 18.925, de 3 de junho de 2024 
Altera a Lei n.º 17.565, de 2018, para declarar o Queijo Kochkäse integrante do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Santa Catarina.

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Alessandra Carvalho
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